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Grupo de pesquisa registra opinião de moradores de cidades de pequeno porte sobre as regras de isolamento social em decorrência do coronavírus

  • Publicado: Terça, 21 de Abril de 2020, 19h53

SCO Vista aerea

O Colaboratório de Interculturalidades, Inserção de Saberes e Inovação Social (Colins), grupo de pesquisa coordenado pelo professor José Guilherme Fernandes, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Antrópicos na Amazônia (PPGEAA/Campus de Castanhal) e do Núcleo Universitário de São Caetano de Odivelas (NUSC), da UFPA, realizou uma pesquisa para registrar a opinião do público em relação ao isolamento social decorrente de ações públicas governamentais para a minimização da transmissão do coronavírus. O objetivo é apresentar a opinião e o nível de concordância/discordância de moradores de cidade de pequeno porte, no interior da Amazônia, em relação aos efeitos do isolamento social por conta da Covid-19.

A pesquisa, realizada entre 6 e 10 de abril, em São Caetano de Odivelas, trabalha tópicos interessantes de serem pontuados, como o papel da mídia, e a influência da ciência e das religiões para a formação de opiniões no cenário da pandemia. O trabalho foi motivado pela necessidade de saber se as orientações nacionais do Ministério da Saúde estão sendo bem compreendidas e seguidas em cidades locais do interior da Amazônia. A coleta de informações foi realizada mediante formulário, com 10 afirmativas, para as quais o participante deveria demonstrar sua concordância ou discordância, ou indiferença.

Ao todo, 20 pessoas foram entrevistadas. No formulário, constaram as seguintes afirmativas: 1. O isolamento social deve ser obedecido rigorosamente; 2. Deve-se evitar o contato físico em casa / na família; 3. Deve-se evitar contato físico com parentes e vizinhos; 4. Deve-se evitar qualquer tipo de reunião (festas, conversas com outros, jogos, lazer etc.); 5. Deve-se evitar sair de casa e da comunidade; 6. O uso das redes sociais pode substituir os contatos diretos; 7. Os meios de comunicação (rádio, TVs, jornais e afins) são fontes seguras de informação; 8. Os cientistas e a ciência darão a solução à pandemia; 9. Somente Deus poderá nos salvar da epidemia; 10. O uso sem limites dos recursos naturais pelos humanos provocou a epidemia.

Sobre o município - São Caetano de Odivelas tem 18.050 habitantes, segundo dados do IBGE (DPE/2019). O município fica na região costeira atlântica do estado do Pará, na microrregião do Salgado, dedicado principalmente à economia do pescado (peixes e caranguejos), com participação também em prestação de serviços comerciais e públicos, além do turismo ocasional de pesca esportiva. De acordo com o coordenador  da pesquisa, José Guilherme Fernandes, “a importância  da pesquisa é gerar uma visão mais particularizada de povos e comunidades tradicionais quanto às orientações nacionais, considerando-se práticas de sociabilidade locais que podem interferir na efetiva execução dessas orientações do Ministério da Saúde”.

Também participou da pesquisa uma equipe de três membros do Colins (Renata Salles, Rondinell Aquino e Suzanne Santos), sendo um homem e duas mulheres, graduandos do Curso de Letras (UFPA), no Núcleo Universitário na referida cidade. O professor José Guilherme esclarece que o estudo colabora para a produção científica nacional acerca do corona vírus na medida em que reúne informações acerca das práticas sociais de comunidades invisibilizadas, por ocasião da pandemia.

“As pesquisas, em sua maioria, no momento, são de natureza médica e sanitária, sendo minimizada a participação das ciências humanas. Ao buscarmos saber a opinião das pessoas, particularmente em cidades locais da Amazônia, podemos ter em conta as melhores medidas para a efetivação do isolamento social sem que haja relutância por não se considerarem as práticas e os valores locais na execução dessa política pública em saúde”, afirma.

Perfil - Os participantes da pesquisa têm faixa etária entre 21 e 70 anos, sendo 8 mulheres e 12 homens. Suas atividades são: aposentados (5), professores (2), comerciantes/microempreendedores (3), atividades domésticas (1), autônomos sem especificação (2), pescadores (3), estudantes (2), desempregado (1) e servidor público (1). Estas ocupações foram indicadas pelos próprios participantes, escolhidos aleatoriamente conforme interesse em colaborar com o estudo. Às afirmativas apresentadas, eles responderam com notas, sendo: (0) para indiferente; (1) discordo totalmente; (2) discordo parcialmente; (3) concordo parcialmente; (4) concordo totalmente.

A pesquisa concluiu que houve concordância em grande maioria das afirmativas, sendo 85 concordâncias totais e 64 concordâncias parciais, o que demonstra que os participantes aceitam as afirmativas formuladas pela equipe, mesmo que tenha havido 32 discordâncias parciais e 17 discordâncias totais, além de três indiferenças.

Conclusões - Segundo o pesquisador José Fernandes, “o que se pode observar mais genericamente é que a cidade aceita os ditames de um governo central e estatal, mas com ressalvas para que o sentido de tradição das relações parentais e comunitárias não se perca, por isso, na pesquisa, considera-se que a ciência poderá dar solução à pandemia, mas, antes, há a necessidade de considerar-se Deus como a entidade primeira que poderá nos salvar dessa situação. O mesmo serve para a compreensão de que os meios comunicativos midiáticos colaboram para a ampliação do conhecimento sobre a pandemia, trazendo informações científicas de esclarecimento para a comunidade, e também são mecanismos que facilitam a aproximação entre as pessoas. Por outro lado, a própria comunidade não tem clareza de que suas atitudes humanas podem concorrer para o agravamento da situação, quando não se respeitam os limites de esgotamento do meio ambiente: inexiste a compreensão das correlações entre o local e o global quanto aos efeitos de exploração dos recursos, assim como é distante a percepção de que, algumas vezes, as práticas locais de subsistência e as relações sociais concorrem para o agravamento de problemas advindos das relações antrópicas”.

“Para os pesquisados, o isolamento doméstico é difícil de ser efetivado e como decorrência, mesmo diante do apelo governamental,  cria-se resistência à aceitação irrestrita de determinações externas e oriundas de um poder estatal, que não participa rotineiramente da realidade local, bem como situa essas determinações em realidade bem distante, e quase estranha, ao meio imediato dos participantes da pesquisa. Por isso existe a relativização da necessidade estrita de evitar-se contatos – concordância parcial em relação a evitar-se os contatos diretos na família e entre parentes e vizinhos – por mais que haja ampla aceitação da necessidade de obedecer-se ao isolamento social como uma orientação do estado. E essa característica fundamental e fundante da cidade a faz uma comunidade tradicional, em que as relações imediatas entre os indivíduos são frequentes, em contatos diários e interlocutivos diretos, por meio de conversas, visitas, circulação entre moradias de parentes e vizinhos, bem como em encontros nas filas e nos espaços de comércio da cidade; o contato direto e cotidiano entre as pessoas ‘conhecidas’ é uma verdadeira instituição social que conforma e estrutura as relações antrópicas naquele espaço. Talvez porque entende-se que o isolamento social é muito mais em relação ao mundo externo ao meio imediato, por isso a comunidade odivelense aceitou com mais entusiasmo a existência de uma barreira sanitária na entrada da cidade, que limita o acesso de estranhos à cidade, permitindo-se, de outro modo, com mais tranquilidade, a entrada de moradores e trabalhadores em circulação para o município”, continua Fernandes.

A expectativa é, futuramente, apontar-se mais variantes e direcionamentos com base nos dados coletados e indicar possíveis soluções para os impasses na limitação de mobilidade dos locais, bem como se as orientações para as políticas públicas municipais estão sendo atendidas a contento.

Acesse a pesquisa completa aqui.

Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Divulgação

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