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Projeto Meu Endereço fecha ciclo de capacitação com foco na produção social do espaço urbano

  • Publicado: Sexta, 24 de Julho de 2020, 15h20

ESPAÇO URBANO NO BAIRRO DO JURUNAS

A Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica do Estado do Pará (Sectet) concluíram, no último dia 22 de julho, quarta-feira, por videoconferência, a realização do Curso de Agente de Cadastramento do Projeto Meu Endereço: lugar de paz e segurança social.

A capacitação articula o intercâmbio de conhecimento sobre atividades de assistência técnica, inovação tecnológica e inclusão social para reduzir os índices de conflitos socioambientais urbanos, que são marcados pela falta de delimitação do terreno, instalações sanitárias inadequadas e questões fundiárias. Essas realidades afetam os territórios do Icuí-Guajará, em Ananindeua; bairro Nova União e São Francisco, em Marituba; Cabanagem, Guamá, Benguí, Terra Firme e Jurunas, em Belém.

O VI e último módulo do Curso de Agente, desenvolvido em dois dias, trabalhou conteúdos, orientações e protocolos da Central de Atendimento Multiprofissional do projeto, além das legislações brasileiras que regem a ocupação do espaço urbano. Foram debatidas as Leis federais 10.257/2001 e 11.888/2008. Esta última garante assistência técnica e tecnológica em direito à cidade e à moradia em prol do desenvolvimento socioambiental, além de assegurar às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social. 90% dos conflitos vicinais têm origem em aspectos fundiários ou construtivos nas comunidades, que são afetadas pela ausência de uma política pública de moradia para as famílias.

Área de multiplos riscos urbanosÁreas de riscos - Myrian Cardoso, coordenadora do Projeto Meu Endereço, afirmou que os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que aproximadamente 70% da população vivem em áreas de ocupação social, via de regra, áreas públicas de interesse ambiental, como em encostas e várzeas, ou em faixa de domínio de rodovias ou nas localidades denominadas terrenos de marinha, que podem ser da União ou foram repassadas para os estados e os municípios, onde residem famílias ribeirinhas.

Segundo dados do Conselho de Arquitetura do Brasil (CAU-BR), 80% das construções não têm acompanhamento de um profissional de arquitetura ou de engenharia e são edificadas em áreas sem estruturas públicas e solos inadequados. “O mercado imobiliário não tem interesse econômico nestas áreas”, enfatizou Myrian.

Discutiram-se, também, os efeitos da Lei Federal nº 13.465, de 11 de julho de 2017, que dispõe sobre a regularização fundiária urbana na Amazônia Legal. Neste contexto, as demandas comunitárias sistematizadas pelas equipes do projeto e debatidas no curso revelam que as famílias dos sete territórios precisam da assistência técnica para a regularização fundiária, a resolução de conflitos socioambientais e de vizinhanças. “Realidade urbana que a parceria entre a Comissão de Regularização Fundiária da UFPA e a Sectet abraçou em busca de construções de soluções com a participação da comunidade”, diz a coordenadora, antecipando que haverá formatura dos participantes em breve.

Élcio de Moraes, consultor jurídico do projeto, esclareceu aos participantes que os conflitos territoriais decorrentes das desigualdades sociais, econômicas e da ausência de um ordenamento cidadão do acesso à terra exigem, quase sempre, uma mediação, uma conciliação e a realização de uma arbitragem para assegurar, com um olhar técnico, profissional e social, a construção da paz nos territórios.

Em 1920, segundo ele, o Brasil era agrícola e 70% da população viviam no campo; e 30%, nas cidades. Na década de 90, esse cenário se inverteu e 70% da população passaram a residir nas cidades; e 30%, no campo. Em 2015, 83% moravam nas cidades e, até 2030, a expectativa é de que 90% das populações viverão nas cidades. “A democratização do espaço urbano é fruto da participação da comunidade”, alertou.

Caio Tavares ao centro um aprendizado para além do bairro do JurunasParticipação ampla -  Neste contexto, Renato das Neves, engenheiro e pesquisador da CRF-UFPA, enfatiza a força da capacitação e o trabalho desenvolvido pelas equipes do projeto antes da pandemia da Covid-19. Foram realizados cursos de Direito à Cidade e Regularização Fundiária, além das Rodas de Conversas, apresentações teatrais, cantorias e as Quintas da Cidadania.

A capacitação mobilizou profissionais de várias áreas do conhecimento, construiu um novo olhar sobre o acesso à cidade e às condições de cidadania e à dignidade da pessoa humana. “Todos podem mediar os conflitos socioambientais nos territórios. O conhecimento é uma ferramenta para combater a violência, a intimidação e a ameaça”, disse.

O resultado do trabalho de campo durante um ano, segundo Renato, construiu a condição, a identificação e a comprovação do endereço de cada família. No projeto, esta comprovação nascerá com a sistematização das informações de cada família, por meio de uma plataforma computacional de elaboração e a emissão do Kit Meu Endereço. O kit é composto de planta de localização do imóvel, planta de limite de lote, laudo de condições socioambiental da moradia, laudo de avaliação do imóvel e guia de encaminhamento para a solução das demandas da comunidade junto aos programas do governo do Pará ou para outras esferas públicas” disse.

Para o Caio Tavares, historiador, morador do bairro Jurunas e integrante do projeto, o intercâmbio de conhecimentos com a realidade e profissionais dos diferentes territórios ampliou o seu olhar sobre a função social da cidade.

“Como historiador, aprendi mais sobre o funcionamento do bairro, da cidade, da sociedade e os seus conflitos urbanos. É um conhecimento que não ficará retido só para mim. Compartilharei para além da comunidade do Jurunas”, enfatizou.  O Projeto Meu Endereço: lugar de paz e segurança social integra o Programa TerPaz do Governo do Pará e visa a beneficiar cerca de 370 mil pessoas diretamente, em especial as vítimas da criminalidade, as mulheres em situação de risco e os jovens de 15 a 29 anos nos sete bairros localizados em três cidades da Região Metropolitana de Belém (RMB).

Texto e fotos: Kid Reis – Ascom-CRF-UFPA

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