“Banho de rio” na Amazônia é tema de coleção criada por aluna estrangeira da UFPA
Você é o que você veste? E se, além de beleza, suas roupas e acessórios trouxessem o elo com o planeta, a preservação do meio ambiente e, ainda, o afeto pela Amazônia, a maior floresta tropical do mundo? A moda sustentável foi o objeto da pesquisa desenvolvida por Laura Esmeralda Navarrete, no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mas, além de sua dissertação, a jornalista, natural de El Salvador, também criou uma coleção cápsula chamada “Banho de rio”, em homenagem ao que aprendeu e sentiu nos dois anos em que viveu em Belém.
“O produto do mestrado foi a dissertação. Mas, quando se fala de moda sustentável, sempre surgem perguntas sobre como é? É possível realmente? Quão difícil é? Eu poderia responder a isso teoricamente, mas queria poder responder como alguém que pôde experimentar e fazer”, explica a pesquisadora.
O segundo motivo que inspirou a criação da coleção foi o desejo de preservar e marcar sua passagem por Belém e pela Amazônia, agora consideradas seu segundo lar. “A coleção é uma homenagem ao afeto que sinto pela Amazônia, principalmente pela região de Belém, que me acolheu e me garantiu uma experiência brasileira completa”, explica a agora mestre em Artes pela UFPA.
Do rio para a passarela - E a coleção foi nomeada em homenagem ao aspecto da região que mais encantou Laura Navarrete: o rio. “Literalmente, a experiência foi um mergulho no rio que rodeia a cidade e na sua cultura ribeirinha. E a imersão deste elemento tem grande importância na concepção de uma coleção de moda, porque o senso da estética tem grande relação e influência na moda feita na Amazônia”, afirma.
A coleção “Banho de rio” inclui cinco vestidos produzidos em parceria com a grife “Madame Floresta” e cinco acessórios, que incluem uma bolsa e quatro brincos produzidos com a grife “Da Tribu ”, ambas foco das pesquisas durante o curso de mestrado.
E nas ruas de Belém - Laura Navarrete optou por desenhar vestidos por motivos muito pessoais. “Decidi que seriam cinco vestidos, porque além de ser a minha roupa feminina favorita, as mulheres paraenses gostam muito deles, segundo minha experiência. A peça é perfeita para usar neste clima, e o movimento cria uma dança de cumplicidade entre quem usa um vestido e as ruas de Belém.”
A estampa do tecido que marca os designs criados em parceria com Graça Arruda, da grife Madame Floresta, é a folha de Adão e simboliza os dois lares de Laura Navarrete. “É uma das minhas plantas favoritas. Pertence a florestas de América Central, mas se adaptou bem na floresta amazônica”, relembra.
Além disso, cada peça recebeu o nome de uma mulher que foi marcante para a pesquisadora, durante sua estadia na “Cidade das Mangueiras”. Assim “Maria”, “Lívia”, “Auxiliadora”, “Rosyane” e “Maria Cecília” registram a amizade, o apoio e o carinho por amigas, colegas e professoras.
Lembranças e materiais da Amazônia - Por outro lado, os acessórios desenhados e confeccionados em parceria com Taináh e Kátia Fagundes, da grife “Da Tribu”, são inspirados em momentos marcantes da pesquisadora e jornalista de moda salvadorenha na Amazônia.
“Foram cinco acessórios produzidos: uma bolsa e quatro pares de brincos, os quais têm nomes de momentos vivenciados pessoalmente na Amazônia; ‘Pôr do Sol’, ‘Guará na Árvore’, ‘Toró no Marajó’ e ‘Cochilo na Rede’”, reforça a pesquisadora.
De objeto de pesquisa à parceria para a criação da coleção, o reaproveitamento e uso de materiais regionais e orgânicos foram marcantes na experimentação do processo de criação de uma coleção sob os preceitos de moda sustentável na Amazônia.
Moda sustentável - Nos vestidos, a tricoline reciclada, tecido comercializado no bairro do comércio - onde está o Ver-o-peso - o qual foi elaborado a partir de resíduos de outros tecidos. O material está ligado ao conceito de “upcycling”, que prevê o reaproveitamento pleno de todos os materiais, sem descartes. “Uma sobra é usada num bordado de outra peça ou como parte de materiais para a criação de acessórios e assim por diante, o que a grife ‘Madame Floresta’ faz muito bem”, explica Laura Navarrete.
Os acessórios são criados com base na “sustentabilidade” com matérias locais, como fios de látex, palha, resíduos de madeira e sementes regionais, que, além de naturais, ainda têm origem ou tratamento em comunidades, profissionais e fornecedores que fazem parte da cadeia de moda sustentável na Amazônia.
A experiência multissensorial da pesquisadora de Belém também está registrada na coleção. “Um estímulo auditivo presente na coleção é o som do carimbó. E os vestidos possuem babados que assemelham aos trajes próprios da dança, com muito movimento e cores brilhantes. As texturas são importantes no desenho também. Sentir a palha nas mãos, tocar as sementes de açaí e sentir ela no corpo, pendurada na orelha”.
Ciência e moda: um par ideal - E se a produção da coleção “Banho de rio” foi marcante na história pessoal e profissional de Laura Navarrete, ela também está ligada à produção acadêmica da pesquisadora de Artes e Moda Sustentável, o que ajuda a mostrar como a ciência está sempre ligada à realidade.
“Serão produtos com os quais outras marcas e designers podem se inspirar e que podem servir de referência para desenvolver novos métodos para investigar os processos criativos de moda sustentável na Amazônia”, defende.
A coleção cápsula “Banho de rio”, de Laura Navarrete, faz parte da pesquisa “Moda sustentável na Amazônia: Princípios, Processos Criativos e Produtos Eco Amigáveis”, produzida no Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPA, sob a orientação, valiosíssima, de Miguel Santa Brígida, usando a Etnocenologia como referência metodológica.
Serviço:
Confira aqui o vídeo de defesa da dissertação de Laura Navarrete, no qual a coleção foi apresentada.
Texto: Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos e vídeo: Divulgação da pesquisadora
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